Elitismo, autonomia, populismo: os intelectuais na transição dos anos 1940 | Entrevista com Milton Lahuerta
Vivemos em um mundo de especialistas. Hoje quem produz ciência está isolado, juntamente com seus pares, da vida pública e da sociedade. Essa profissionalização da vida em comunidades fechadas contaminou a atividade política, cada vez mais distante da sociedade. Para o cientista social Milton Lahuerta, autor de “Elitismo, Autonomia e Populismo: Os Intelectuais na Transição dos Anos 1940”, esse distanciamento é resultado de um rompimento entre intelectuais e política na primeira metade do século passado. Segundo ele, os anos 40 foram uma síntese do esgotamento de um ideal de progresso que entrou em crise a partir da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa. “Isso muda totalmente as relações entre cultura e política. Uma consequência é a reflexão sobre o papel dos intelectuais, e como os intelectuais se posicionavam diante desses problemas”. No Brasil, explica, a posição mais contundente é a do escritor Mario de Andrade, interpretada à época como uma exortação dos intelectuais para a participação da vida política do País. “Mas muitos interpretaram isso como uma subordinação da cultura à política. Esse espaço, com a modernidade radicalizada, se tornou cada vez menor. Por isso hoje estamos no mundo dos especialistas.” Para Lahuerta, o mundo está mais complexo do que em outras épocas e necessita que a atividade política seja permeada pelas atividades intelectuais e vice-versa. “Esse distanciamento explica a perda de ideia de futuro. Explica também a profunda crise em que a representação política está inserida. E por que as ruas vêm à tona de maneira tão bárbara, tão bruta e tão destituída de politica democrática. A política está desvalorizada porque perdeu dimensão cultural. Do mesmo modo que a universidade é desvalorizada porque perdeu a capacidade de se articular com a vida pública”. Segundo o autor, a realidade exige cada vez mais que os intelectuais apareçam para ajudar a vida pública a ter mais perspectiva de futuro. “É o dilema que estamos vivendo hoje.” entrevista com milton lahuerta gravada na livraria da vila, em campinas, dia 7 de junho de 2014.